RICO LOPES
Rico Lopes é Henrique Lopes, psicanalista e escritor. Diretor executivo da Casa da Cultura Digital e integrante do Coletivo e/ou, por meio do qual publicou contos nas antologias As dores de Josefa (2016) e o O olhar inaudível (2020). É autor da fotozine Veludo azul (2018) e coautor da zine Agite antes de usar (2019). Amante da fotografia mobile, emoldura pedaços do mundo no instagram
LOPES, Rico. Rifle. Goiânia, ÇGO: Naduk, NegaLilu, 2020.
112 p, ilus. fotos. 16 x 23 cm. Fotos do autor. Capa: Alanna Oliva.
ISBN 978-65-992165-0-3 Ex. bibl. Zenilton Gayoso
Rifle teve sua concepção em movimento. Nas andanças de Rico Lopes, atmosferas urbana e marítima afinam a mira poética do autor, instigando a escrita de poemas criados a partir de afetos pela paisagem. Texto extraído de negalilu.com.br
Sobre andorinhas & cardumes
O sol mergulha
na linha do horizonte
dum tempo de bananas em Ituitá
O mesmo laranja que borra o céu
habita a pele mascava de Jade
Guuiado pelo brilho dela
o tapete persa de Aladdin
sobrevoa um campo incendiado
em busca do perfume das jasmins
Deito o ouvido no tronco
pra ouvir as palmeiras crescerem
e não desisto de lustrar a âncora
Ouvi dizer que gênios da lâmpada
habitam qualquer objeto
com vestígios de pó
Por entre as folhagens
de tantos coqueiros
aquele poste de Nárnia
meio bicho e fogo
E o verão ardendo
amarelo e laranja
sobre as escarpas
das suas costas
Lusofonia
Eu queria entender o amor
e por que ele faz a tantos
a vida valer a pena
E talvez eu tenha entendido
quando dei por mim em Porto
contemplando o sobrevoo das gaivotas
E o ir e vir da maré a desmanchar
o ir e vir dos seus passos na areia
que de repente não mais vinham
Eram só
Partida
Morangos silvestres
Um altar de pedras na beira da estrada
a caminho da cidadezinha no fim da linha
Ao som de um tango abismos verdes
dançam em quedas d´água
E no céu o tom violáceo de uma tarde que chora
Como se um campo de lavandas
se estendesse sobre nossas cabeças
Às vezes a alegria da viagem é tanta
que a gente não quer chegar nunca
Mas a estrada nunca deixa
de ser atormentada pela saudade
Ora do lar
Ora do paraíso
Cardamomo, tomate seco, pimenta & alho-poró
os cheiros da casinha de minha avó
Alguém lavou as paredes
as xícaras e os lençóis
Mas restam nos objetos
aquela mancha indelével
que atormenta o sono:
As paixões de verão
e a solidão das noites
*
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Página ampliada em fevereiro de 2021
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